quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Testamento de Olaf Stern

Há dois domingos que tenho sentido forte apelo pelo suicídio. No momento seguinte, recaio em trema agonia. Sei que meu trabalho neste lugar ainda não terminou. Acometido por intensíssimo e ilúcido desespero por haver ainda o que fazer, dobro em partes pseudo-simétricas meus pensamentos sobre o que fazer. Minha arte se levanta do profundo oceano de sombras que beira meu olhar e alça vôo do topo desta página. Às vezes, lamento não ter tido coragem para abandonar por alguns anos esta difícil lida da arte para viver tão simplesmente ao lado daquela que me terá (talvez) sido o último fustigar de amor juvenil. Depois disso, hei tolo para as coisas dessa coisa, que gera tanto medo, chamada “amor”. A brevidade arde em meu pensamento. Ainda há tantos para ensinar e tantas a “querer”. Persisto nesse diálogo – entre a vontade de ser pequeno e a certeza de ser grande – como um epilético. Envelheci. O costume me assusta: o cérebro leva microssegundos até ler o livro que já descansa na prateleira há séculos. E são algumas dezenas de coisas que escrevo e são livros com as páginas soltas e são um angariar de momentos em produção compulsiva.

Preciso morrer agora. É meu caminho. Tenho de ir para que sintam quando lerem estas palavras saudades de um sonho que foi abdicado, de um momento que não foi vivido totalmente. Meu sumiço representa o reaproveitamento desta folha caída e morta. A carta é um mero documento que um dia será também aproveitado para fazer com que alguém não acorrente uma criança em seus sonhos e frustrações; para que não se apeguem mais a alguém da mesma forma que eu... para mostrar que eu não deixei de ser um exemplo... nem mesmo assim.

Adeus...

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