sábado, 16 de agosto de 2008

Nato - Fragmento de Prosa

Na companhia de um pensamento, houve, então, a lucidez. Evidentemente, muito mais por cálculo do que por lucidez, desta matriz veio toda a sua concepção de si.
Ocorrido o primeiro ato da memória, recorrer ao que é em-si, descobriu a vocação. Acordou consigo que jamais voltaria ao objeto. Havia a imagem no espelho: ímpar, visto que a beleza que se erguia diante de seus olhos era original demais para ser julgada ou mesmo comparada. Possuía um corpo extenso, uma face espantada, distinta de qualquer outra conhecida.
Exclamou: ego sum!

7 comentários:

Anônimo disse...

Afinadíssimo, porém me permita o comentário:
Toda imagem no espelho é par, nunca ímpar...

JM disse...

Ímpar: única. A idéia foi apresentar a imagem como imagem "em-si", objeto da visão. O primeiro efeito da observação ao espelho é se perguntar se aquilo "é" ou "não" o que se pensa ser, neste caso, "si próprio". Tenho tentado trabalhar este tema da auto-imagem numa abordagem existencialista. Isso quer dizer que ela é "imagem única" à medida que se pensa como objeto, "em-si", algo que não possui função além do que é; diferente da pessoa que vê, que é "agente-ator", "para-si", ente possuidor de consciência e capaz de se lançar à "imagem" que faz de si mesmo.
De qualquer forma, forum aberto.
Um abraço, Irmão.

Anônimo disse...

Mas, com qual autoridade dizes que a imagem não possui consciência de sua não-existência?
O "não-existir" não seria uma forma de existir?

JM disse...

A "imagem" é uma ilusão de ótica, um objeto que permite a apreensão sensorial do que pode se assemelhar do que somos...

Anônimo disse...

A imagem é uma ilusão, ou o objeto que é uma forma ilusória nda realidade da imagem?

JM disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JM disse...

A imagem possui ambas as características.
Uma vez "ilusão", considerada efeito da ação da luz sobre um objeto que, projetada numa superfície de propriedades reflexivas, dá ao sentido da visão a falsa impressão de ser o objeto primeiro único na chamada "imagem".
Uma vez "objeto" dos sentidos, vez que sua observação permite uma suposta apreensão sensorial, pela visão, de suas características inatas.
Recorrendo a Kant, seria um imperativo categórico a primazia do objeto real ao que é apreendido pelos sentidos. Porém, estes mesmos sentidos sofrem ilusão a partir deste efeito óptico.
Uma vez entendido o resultado desta reflexão um "objeto do sentido da visão", temos, aí, algo "em-si", ou seja, sem função distinta de "ser o que é", que possibilita ao agente "para-si", ou seja, possuidor de consciência, que se lance a esta apreensão.
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